Luis Vaz de camões

 

 

O pouco que, com base documental segura, se conhece da sua vida tem dado lugar a uma biografia onde a lenda tomou em grande parte o lugar da historia. Nascido provavelmente em Lisboa, a roda de J524, pertencia a uma família da pequena nobreza, de origem galega, que viera para Portugal em tempos do Rei D. Fernando e se espalhara depois por várias terras do Reino, em especial Lisboa e Coimbra. Dos seus estudos pouco também se conhece, embora as referencias que deixou na sua obra a esta segunda cidade permitam conjecturar que af tenha adquirido boa parte do seu notável cabedal cultural, talvez a sombra do Mosteiro de Santa Cruz, onde tinha parentes, ainda que os dados cronológicos disponíveis ofereçam algumas dificuldades a afirmação, corrente em alguns biógrafos, de que a sua formação contara com o patrocínio de D, Bento de Camões, Prior Geral dos Cruzios. Aí Ihe correriam dias de suave encanto, ao sabor das paixões fagueiras da primeira juventude, sem que possamos, no entanto, identificar o objecto delas.

Entre 1542 e 1545 deve ter-se deixado atrair pelo apelo de Lisboa, trocando os estudos pelo ambiente de culta galanteria que então se respirava na corte de D. João III, depressa conquistando fama de bom poeta, com a contrapartida de despeitos e invejas que a sua superioridade e o seu feitio altivo e brigão não deixariam de suscitar. Diz a fantasia de alguns biógrafos que, por isso e por se ter atrevido a levantar olhos de amor para a Infanta D. Maria, teria caído em desgraça, a ponto de ser desterrado para Constância. Não ha, porem, o menor fundamento documental que permita sustentar tal afirmação. Ligado provavelmente a poderosa casa do Conde de Linhares, D. Francisco de Noronha, talvez na qualidade de preceptor do filho D. António, seguiria para Ceuta a roda de 1549 e por la ficaria ate 1551. Tal aventuro era então comum na carreira militar dos jovens da sua condição. Dela ficaria lembrança explicita na elegia Aquela que de amor descomedido, mas daí Ihe resultaria também a perda de um dos olhos, pela «fúria rara de Marte».

Que regresso a Lisboa, não tarda em retomar a vida boémia. Não admira por isso que no dia do Corpo de Deus de 1552 se tenha envolvido em encarniçada rixa, durante a qual feriu um moço do Paço chamado Gonçalo Borges. Preso no tronco da cidade, e libertado por carta regia de perdão de 7-3-1552, embarcando para a Índia na armada de Fernão Alvares Cabral, que largou de Lisboa a 24 desse mesmo mes. [...]

Entre Fevereiro e Novembro de 1554 embarcou na armada que, sob o comando de D. Fernando de Meneses, patrulhou o Mar Vermelho, ai sentindo a amargura da saudade e do desamparo que Ihe ditariam a canção junto de um seco, fero e estéril monte. Algum tempo depois, e certamente na inatenção de Ihe melhorar a vida, o Governador Francisco Barreto, para quem escreveria o Auto do Filomeno, nomeava-o «provedor-mor dos defuntos nas partes da China». Não seria exemplar o seu comportamento em terras do Extreme Oriente, visto que, ao regressar do Japão, Leonel de Sousa encontra razoes para o trazer compulsivamente para Goa:

 

Na viagem de regresso, por fins de 1558 ou princípios de 1559, naufraga na foz do rio Mekong, salvando apenas o manuscrito d'Os Lusíadas, então certamente já em adiantada fase de elaboração. [...] No desastre teria perecido também uma moca chinesa que trazia como companheira, dando-lhe motivo a serie de sonetos a Dinamene. E possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiencia as redondilhas Sôbolos rios.

Por entre penosas dificuldades chega a Goa, antes de Setembro de 1560, A sua situação era tão precária que pede a protecção do Vice-Rei D. Constantino de Bragança num longo poema em oitavas, cujo efeito deve ter sido nulo. Passado algum tempo, e aproveitando as excelentes relações que mantinha com o novo Vice-Rei, D., Francisco Coutinho, Conde do Redondo, dirige-lhe varias suplicas em verso para que o mande libertar da prisão, onde estava encarcerado por dividas.

Em 1567, induzido talvez por promessas de Pedro Barreto Rolim, vem para Moçambique, onde, passados dois anos, Diogo do Couto o vem encontrar tão pobre que vivia da generosidade dos amigos.

Chegado a Lisboa, consagra todos os cuidados a impressão da epopeia, para o que contou com o patrocínio de D. Manuel de Portugal, como se infere da ode A quem darão de Pindo as moradoras. A publicação do volume, em 1572, alguma coisa melhorou as suas condições de vida, graças a uma tença de 15 000 reis, que D. Sebastião Lhe concede por alvará de 28-8-1572. Em 1578 vê partir para o Norte de África as esperanças e vanglórias do Rei e do seu exercito, que a derrota em breve afogaria em lágrimas de morte e de luto nos areais de Alcácer Quibir. A 1 de Junho de 1580, mergulhado no pesadelo daquela «apagada e vil tristeza» que, ensombrando a Pátria, Lhe ensombrava a alma, Camões morria numa pobre casa da Calcada de Santana, sendo enterrado em campa rasa, na igreja de um convento de freiras, que Lhe estava vizinha.

Encerrava-se assim uma vida «pelo mundo em pedaços repartida», que os
erros, a ma fortuna e o amor ardente tinham transformado num angustioso dissídio
interior e num permanente desencontro do indivíduo com toda uma
sociedade em crise. Mas o «bicho da terra vil e tão pequeno» que a vivera nos
acasos da errância e no desconforto da sua constante inadaptação a realidade comezinha das coisas e dos homens, criara em poesia, mercê dessa penosa expe­riencia, a mais alta e bela expressão algum dia alcançada para o drama de ser português.

 

Lírica

  • 1595 - Amor é fogo que arde sem se ver

  • 1595- Eu cantarei o amor tão docemente

  • 1595 - Verdes são os campos

  • 1595 - Que me quereis, perpétuas saudades?

  • 1595 - Sobolos rios que vão

  • 1595 - Transforma-se o amador na cousa amada

  • 1595 - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

  • 1595 - Quem diz que Amor é falso ou enganoso

  • 1595 - Sete anos de pastor Jacob servia

  • 1595 - Alma minha gentil, que te partiste

Teatro

  • 1587 - El-Rei Seleuco

  • 1587 - Auto de Filodemo

  • 1587 - Anfitriões

     

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